Annyeong haseyo! 
Tudo bem com vocês?
Vamos de dorama novo, do sensacional Gong Yoo? Confesso que só fui assistir porque era com ele e estava no Top 10 dos mais assistidos da Netflix, então me animei e dei o play. A história se sustenta por ela mesma e o elenco abrilhanta ainda mais esta obra. Não se trata de um romance bonito, sabe? Vai além do romance idealizado e convencional, porque tem toda uma crítica por trás da história. Sem mais delongas, vamos conversar?
Ficha Técnica
Drama: The trunk
Hangul: 트렁크
Roteiro: Park Eun-young
Direção: Kim Kyu-tae
Protagonistas: Seo Hyun-jin, Gong Yoo e Jung Yun-ha
Gênero: Romance/Melodrama/Mistério
Duração: 8 episódios
País: Coreia do Sul
Lançamento: 2024
Disponível: Fansubs, Telegram e Netflix
Sinopse
Baseado no romance de Kim Ryeo-ryeong, a série “The trunk” segue a vida de Noh In-ji, chefe da agência de serviços de casamento por prazo determinado conhecida como NM, e do produtor musical Han Jung-won. Ambos não acreditam no casamento: Noh In-ji prefere permanecer solteira, enquanto Han Jung-won vê os casamentos como enganosos.
Após finalizar seu quarto contrato, Noh In-ji conhece Han Jung-won para seu quinto contrato de casamento. Ele vive ansioso e solitário devido a dores do passado e ainda sente falta de sua ex-esposa. Com o tempo, Noh In-ji e Han Jung-won se conhecem melhor. Contudo, o surgimento de um baú misterioso na margem de um lago revela segredos ocultos da empresa NM, envolvendo os dois em uma trama intrigante.
O drama, além de explorar o relacionamento entre os protagonistas, também aborda temas como amor, confiança e as complexidades dos relacionamentos modernos.
Protagonistas
Han Jung-won (Gong Yoo) é um produtor musical, um personagem complexo, imerso em traumas e dores emocionais não cicatrizadas, que tem uma relação bem disfuncional com sua ex-esposa. Ela é a responsável por encontrar a próxima esposa dele. Uma loucura!
Noh In-ji (Seo Hyun-jin) é um enigma! Ela é uma prestadora de serviços personalizados, é assim que a defino, afinal ela tem por profissão ser esposa de homens que estão com os dias contados e não querem morrer solitários.
Para isso, ela representa o papel da “esposa perfeita” por um período determinado; é assim que ela acaba entrando na vida do Han Jung-won.
Lee Seo-yeon (Jung Yun-ha) é uma arquiteta bem sucedida e ex-esposa do Han Jung-won. Essa mulher é inexplicável, rsrs. Uma loba!! Ela atormenta o ex com a culpa e o remorso, uma clássica narcisista. Ela é a responsável pelo casamento dos dois protagonistas.
Perturbadoramente enlouquecido pela culpa
É assim que Han Jung-won nos é apresentado: um homem atormentado e viciado em pílulas para dormir. A vibe deste dorama é bem sombria, as escolhas das cores das cenas têm o cuidado de nos passar um ar depressivo, carregado e tenso, porque é assim que esse personagem é.
Um homem amargurado e atormentado pelo passado, principalmente pelo casamento de seus pais, sua mãe era vítima de violência constante por parte do marido. É uma cena mais grotesca do que a outra e, no meio de toda a dor sofrida por essa mulher, existia um garotinho que assistia a tudo, impotente, ele não podia fazer nada contra o pai agressor e isso o corroía imensamente.
É nesse cenário caótico que essa criança auxilia a mãe no suicídio, tenebroso! Ele acaba se culpando por essa morte e é daí que ele desenvolve a insônia e fica viciado em remédios para dormir. Aliás, esse vício é alimentado pela ex-esposa. Essa personagem é uma coisa, ela é totalmente cruel com ele.
Dá uma raiva danada dele continuar se humilhando para ela! É cada patada e humilhação que ela proporciona para o cara, ela é uma loba má! Claramente narcisista, o egoísmo dela é sem limites. Ela brinca com ele e com a culpa que ele tem pela morte do bebê deles, mas é só mais uma desculpa que ela encontrou para atormentá-lo.
Depois que eles se separam, a contragosto do Jung-won, ele fica rastejando atrás dela, mesmo ela já tendo casado novamente com um novinho delícia, rsrs.
Ela arruma tudo para que ele também se case com uma mulher que ela escolhe, In-ji, que é uma grande funcionária da NM, uma agência de casamentos de fachada, inclusive o novo marido da Seo-yeon também é um funcionário deles. Aí eu me pergunto: para quê?
Essa mulher inventa de realizar esses dois casamentos falsos só para torturar o ex, porque isso não faz o menor sentido. Durante a trama, vamos entendendo que o que dá prazer a ela é saber da alta capacidade que ela tem de controlar a vida do ex-marido, usando suas carências, culpas e traumas a seu bel prazer.
Confesso que ela me deu bastante raiva! Quando finalmente ele aceita assinar o contrato com a In-ji e se “casar” com ela é que a história começa a caminhar de uma maneira bem interessante. Nesse momento vamos nos envolvendo nas teias dessa trama sombria.
Tudo muito estranho e obscuro
In-ji, a nova “esposa” do Jung-won, também tem seus segredos e mistérios. Ela é uma mulher com uma personalidade bem peculiar, é muito inexpressiva e profissional, parece um robô de tão empenhada em representar a esposa ideal. Ela teve um problema com o noivo verdadeiro, que a abandonou às vésperas do casamento deles, o que a deixou traumatizada e humilhada, já que sua própria mãe revelou a bissexualidade do pretenso genro, acabou com a vida do cara e amargurou a própria filha, ao ponto dela romper relações com a mãe.
Durante esse caos, ela foi interceptada pela dona da Agência NM, que ofereceu esse estranho emprego de “esposa ideal” para homens que estão à beira da morte. E é assim que ela se torna uma ótima funcionária, que entra em seu quinto casamento, só que dessa vez o “marido” não está doente. Ele apenas precisa passar em um teste criado pela ex-esposa.
In-ji tem um stalker extremamente perigoso, que foi solto do hospício que estava internado, Eom Tae-seong (Kim Dong-won). Assim que ele ganha as ruas, continua perseguindo-a, enquanto ela continua em busca do tal noivo fugitivo, inclusive, ela continua mantendo a casa onde eles viviam. Ela também tem os traumas delas, né? É uma mulher ferida, que foi abandonada por causa do preconceito dos outros, já que ela nunca se importou a sexualidade do noivo.
Uma maneira peculiar de se vingar…
Ser a esposa de outros homens foi a maneira que In-ji encontrou de se vingar dele, mas ela ainda quer encontrá-lo para terminarem as coisas direito.
Esse enredo estranho me fez pensar nas relações humanas, sabe? Nessa trama, tivemos algumas formas de relacionamentos e todos eles disfuncionais e doentios. Fico pensando se existe alguém no mundo que sabe namorar, manter um relacionamento saudável e o que seria esse tipo de relação.
Todos os personagens possuem seus medos e aflições com relação a estar com alguém e essa necessidade de não estar solteiro. Digo solteiro, o que é diferente de estar só. Porque todos os casais deste dorama eram apenas pessoas solitárias buscando uma companhia que não existia, cada um criando as suas expectativas e se frustrando com as ações do outro.
Não há diálogo, não há respeito dentro dos relacionamentos “reais”, mas dentro dos casamentos arranjados por contrato o respeito acontecia, o que é muito estranho.
E a agência especializada em casar as pessoas de mentirinha? Que loucura! Fico imaginando quão solitário e desesperado por atenção uma pessoa tem que estar para recorrer a esses serviços.
Porque você contrata alguém não para te amar, mas apenas para não morrer sozinho. O medo da solidão na hora da morte é devastador e cruel, né? Acho que ele mostra um fracasso em não conseguir formar vínculos, porque se gastou toda a vida angariando status, dinheiro, sucesso para acabar morrendo sozinho.
Polêmicas em torno dessa história
“The trunk” levantou sérias discussões sobre a história, já que grande parte do público ficou incomodado com a temática da trama, achando que era uma romantização da prostituição e que Gong Yoo poderia arruinar sua carreira por atuar nessa produção. Teve ainda a questão das cenas de nudez e outras mais íntimas, ao que o ator soube responder muito bem, dizendo que era uma história sobre as complexidades dos relacionamentos e a dificuldade de consegui-los, o que foi bem recebido.
Eu concordo com ele, em nenhum momento eu associei à prostituição. Achei que foi mais uma forma de explicar o quão difícil é se envolver amorosamente com outra pessoa, ao ponto de se terceirizar a conquista. E durante a trama fica bem claro que a intenção do roteiro não é sobre a venda do corpo de alguém, pelo contrário, fica claro que o sexo só é permitido se ambos desejarem e que aquele relacionamento é apenas um relacionamento para mostrar para os outros, sem qualquer outro envolvimento e com prazo de validade.
Acho que as pessoas têm aquela resistência em assistir outros tipos de romances, um que não tem o CEO que salva a mocinha. Neste, temos adultos complexos e cheios de dores, desesperançados e com vontade de acertarem a vida, de serem compreendidos. Com grande necessidade de aceitação.
O próprio nome do dorama faz referência às questões emocionais dos personagens. “The trunk”, no sentido de baú – um lugar para guardar coisas, sentimentos, que vão envelhecer longe dos olhos de quem os pertence; um objeto difícil de abrir e que guarda o que se quer esquecer. Achei essa simbologia bem interessante, tanto que os dois baús só foram abertos no final e cada um libertando o que prendia cada personagem.
Do profissional ao pessoal
In-ji começa seu novo trabalho e seu cliente é diferente dos outros quatro anteriores. Primeiro, porque ela não foi escolhida por ele; segundo, porque ele não quer aquele casamento, mas para agradar a mulher que ele acredita amar, ele acaba aceitando, e isso acaba sendo o melhor para ele.
Sua nova esposa vai quebrando a resistência dele com relação a ela de uma maneira muito respeitosa, consciente e profissional. Durante a sua estadia na casa dele, ela descobre que Seo-yeon mantém o vício de Jung-won deliberadamente e ele apenas aceita as pílulas que ela insiste que ele tem que tomar, já que ele não consegue dormir.
Com a presença de In-ji na vida dele, as coisas vão mudando paulatinamente e ele vai se adaptando a essa nova situação e gostando, e é quando ele começa a perceber que a Seo-yeon não é tão boa assim. Nesse quesito, In-ji se empenha para tornar Jung-won independente da ex, ela quer que ele seja feliz, que ele consiga construir uma família.
Durante esse processo, os dois acabam se apaixonando, se ajudando a curar seus respectivos traumas, enquanto a ex fica transtornada quando percebe que o joguinho dela dá errado, mas ela acaba encontrando seu caminho e deixando o ex-marido viver a vida dele. Ela é desmascarada várias vezes, o que resulta no despertar do Jung-won com relação a ela de uma maneira catártica, e ele fura aquela bolha de opressão.
O despertar
Quando ele entende seus próprios sentimentos com relação à ex, quando ele verbaliza seus traumas de infância ele se liberta de tudo o que sempre lhe fez mal, desde a relação tóxica com a ex até a demolição da casa ancestral que ele continuava morando. A partir desse momento, ele se sente livre para começar a viver a sua vida de uma maneira saudável.
Tudo isso sendo possível por causa do apoio que recebeu de In-ji, inclusive eles se separam para que ambos possam encontrar seus próprios caminhos, só que dessa vez sem ressentimentos e culpas. Sabe o lance de priorizar o autoconhecimento? Então, é exatamente sobre isso.
Apesar de descobrirem que se amam, esses dois entendem o quão importante é esse processo de amadurecimento para ambos. Dessa forma, Jung-won propõe que se os dois tivessem dois encontros ao acaso durante a vida, ao final desse segundo encontro, eles começariam um relacionamento de verdade, que poderia durar pouco ou muito, mas que seria real porque os dois queriam.
E é assim que essa história acaba, com esses dois se descobrindo individualmente, quando um dia qualquer eles se esbarram na rua e contam aquele como o primeiro encontro casual, que se mais um acontecesse eles iriam tentar. Eu achei maravilhoso! Muito maduro e real.
Considerações finais
Como eu disse no início desse texto, não estava dando nada pela história, mas foi só assistir ao primeiro episódio que me vi fisgada pelo enredo. As atuações de todos estão muito boas!! Uma maturidade, sensibilidade e bom gosto na entrega de cada um, sem falar que as cenas são muito bem dirigidas, a gente sente aquela angústia e opressão dos envolvidos por conta dos tons azulados e sombrios que são usados na fotografia. Tudo isso aumenta essas sensações e percepções nos espectadores.
“The trunk” é um dorama mais maduro, uma história de amor mais adulta e recheada da complexidade que os relacionamentos possuem, sabe? Não tem um “felizes para sempre”; não tem promessas absurdas e nem delírios românticos. São apenas pessoas tentando sobreviver na selva que é a vida, enquanto buscam se conectar com alguém que os entenda.
O processo é doloroso e muito trabalhoso e nem sempre trará o resultado que se espera, mas vale a pena tentar. Eu gostei muito da história. Super recomendo!
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